Um monstro refém das insónias

Uma sombra que não dorme e fez de si um alvo de sedução e agressões

Alguém que acedeu aos seus dados pessoais

Uma transtornada, sem respeito pelas regras do privado e do convívio social

Uma histeria epilética a ameaçar-lhe vida e obra

Sufocada pelos vómitos de uma linguagem escatológica

Uma sonâmbula incestuosa gangrenada por traumas religiosos

Uma obcecada com imagens revoltantes e fantasmas sexuais com o próprio filho

Uma besta que lhe espezinha os afetos, contactos e hábitos

Um caso anormal, que lhe invade as amizades, envia emails em seu nomes e está, ano após ano, a pensar permanentemente em si

Uma mente perversa apostada em envenenar-lhe a existência

O diário de uma sedução falhada mergulhada no crime

Um ser disforme mascarado pela capa diária da normalidade

Um problema de saúde pública, avidamente ao seu lado, apenas à espera da noite, para voltar a atacar

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Maria Botelho Moniz, ou de como o sucesso de uma figura pública pode estar intrinsecamente ligado a um potencial caso de Stalking


O rosto das vítimas dos monstros sem rosto:

"O “Curto Circuito” vive muito dos comentários feitos pelos telespectadores em directo durante o programa da SIC Radical. As duplas de apresentadores já se habituaram a ignorar alguns dos conteúdos menos próprios que surgem nos ecrãs do estúdio, como ameaças, insultos ou propostas sexuais. Havia no entanto um comentador assíduo que chamou a atenção de Maria Botelho Moniz pelas mensagens repetitivas dirigidas só a ela. Inicialmente não passavam de insultos como, por exemplo, “és feia” ou “não tens talento”, mas depressa passaram a ameaças que se estenderam também à família: “Uma vez publiquei uma fotografia com a minha sobrinha e ele comentou a dizer que esta era a prova da pedofilia que eu praticava, aliado ao facto de apresentar um programa para público juvenil”, recorda. As mensagens, conta, passaram a ser às dezenas. Maria sentiu-se cada vez mais insegura e decidiu contactar a polícia. Entrou com um processo no Ministério Público no final de 2012, mas até agora a investigação não teve qualquer avanço, apesar de estar constantemente a actualizar o dossiê com as novas investidas do perseguidor. A identidade do stalker ainda é desconhecida, mas Maria Botelho Moniz desconfia tratar-se de um homem pelo teor das mensagens. Entre os vários estratagemas que arranjou para se aproximar da apresentadora, um deles foi certeiro. Criou um perfil falso no Facebook, de Conceição Lino, e adicionou vários amigos de Maria Botelho Moniz: “Uma deles caiu na esparrela e deu-lhe o meu número de telefone.” A partir daí acabou-se o sossego. “Chegou a ligar-me de três em três minutos durante duas horas seguidas.” De cada vez que atendia, silêncio absoluto: “E eu contei histórias, pus música, perguntava coisas, mas nunca me respondeu.” Sem perceber o que se estava a passar, a única explicação que Maria obteve foi através de uma mensagem publicada nas redes sociais: o assédio acontecia simplesmente “por gozo pessoal”. Actualmente o contacto é mais esporádico e a apresentadora sente-se, nas suas palavras, “estupidamente conformada”, por achar que nunca vai acontecer nada ao homem que a persegue há três anos. Nestes casos de stalking, as figuras mediáticas são alvos fáceis de perseguições, conta a psicóloga Tânia Paias: “Como parte das suas vidas é pública, o perseguidor começa a fantasiar possibilidades, acabando por acreditar que faz parte dessa realidade.”

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