terça-feira, 3 de julho de 2018

2 comentários :




  1. Fatima:


    “UM DIA O TELEFONE TOCOU

    Um dia, era já tarde, o telefone tocou: era a Zizita. A Zizita é uma numerária e falava-me, na altura, de Lisboa:
    -Está, Fátima? Sou eu, a Zizita. Estás boa?
    -Estou- respondi com ar de espanto (tinha-me desligado da Obra havia talvez seis meses).
    - A Maria da Purificação morreu... ( e ouço um choro em convulsão do outro lado da linha).
    Tentei acalmá-la. Continuou a chorar sem conseguir controlar-se. Indicou-me que o funeral seria no dia seguinte, numa igreja perto do lugar onde então eu vivia.
    Na tarde seguinte dirigi-me para o velório da Maria da Purificação.
    Lá estava o corpo, rezei. Vi quem estava presente: algumas supranumerárias e poucas numerárias, para além de outras pessoas. A missa de corpo presente foi celebrada por um sacerdote da Obra, o Dr. Matoso.
    No final, a directora de S. Gabriel, a Carina, disse-me:
    -Olá princesa! Já há muito que não te via... A brincar, a brincar...
    - ...( não lhe respondi)

    A Maria da Purificação morreu...


    Conheci-a num dos centros do Opus Dei.
    A Maria da Purificação frequentava os meios de formação, pelo menos, havia uns dez anos. Tinha um plano de vida: confessava-se , missa diária, oração, círculo...

    E conheci outras: uma que frequentava, talvez, há sete anos, outra há nove...”

    “Não, não eram membros. Então o que eram? Eram cooperadoras.
    Pois. São cooperadores ( independentemente do credo, ou não credo) aqueles que ajudam nas tarefas apostólicas da Obra através da oração, de dinheiro ou do trabalho desenvolvido.
    Estas pessoas rezavam e ... vai-me custar dizer, mas é a verdade... e pagavam.
    Uma espécie de membros “Y” ( como no “Admirável Mundo Novo”, do Aldous Huxley), de intocáveis, que não serviam para nada.
    No entanto, mantinham-se fiéis aos seus compromissos.

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  2. Uma vez, no início da minha aproximação à Obra, falei com duas delas - falamos todas dos nossos desejos ( todas acalentávamos a esperança de vir a ser membros do Opus Dei).
    Porquê? É que, qualquer uma de nós sentiu o “arrepiante” apelo de se dar a Deus, mantendo-se no meio do mundo (o que não torna a proposta da Obra, em nada, original - só mais tarde soube disso).

    E não era legítimo esse anseio, atendendo a que nada nos foi comunicado que tornasse inviável a Admissão? Legitimíssimo.

    Uma directora conversou comigo dizendo-me que eu não tinha nada que ter falado da “minha vocação” às demais pessoas: elas não estavam no mesmo patamar que eu (Fantástico!). E não percebi. O que percebi, sim, foi que usaram um argumento que visava afagar-me o ego.
    E lá seguia eu, toda contente, com as normas, a conversa, etc. , pensando que faria (reparem só na originalidade) a vontade de Deus.
    Mas o meu caso não acabou em Admissão...


    Mês de Maio, mês de romarias. Lá fiz algumas e a primeira foi ao Carmelo do Porto. Disseram-me que TODAS AS MONJAS CARMELITAS SÃO COOPERADORAS.
    Desculpem. É que não percebo nada de Direito Canónico, mas causa-me estranheza que todos os membros de uma ordem possam ser nomeados cooperadores.
    Uma vez, falei com uma delas sobre isto, que me adiantou:
    - Então...não havíamos de rezar por toda a gente?...
    E sorriu.
    Não me pareceu nada esclarecedor.

    Depois há aqueles que contribuem muito, muito, muito – não apenas em géneros...

    E há os ex-membros também, claro... cooperadores.

    Então, quem são os cooperadores do Opus Dei?
    Poderão ser os que estão numa espécie de ante-câmara de entrada para a instituição, os indiferenciados, os "Y's", as monjas Carmelitas, os ex-membros... ou seja: são tudo o que não cabe nas quatro categorias de membros: numerários, agregados, supranumerários e numerárias auxiliares. Ou seja, NADA.

    Suspeito que alguns dos responsáveis da Obra têm consciência do sofrimento que provocam ao alimentar nas pessoas que se aproximam do Opus Dei , expectativas de realização espiritual - e até pessoal - que só poderão vir a ser frustradas.

    Sempre me perguntei que significava o choro convulsivo da Zizita – arrependimento? Não sei .

    E outro dia, na Igreja da Lapa, vi passar outra “Y”: a Alberta”.



    Fátima Filipe

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